O coaching uma oitava acima

“Quando uma ou mais pessoas estiverem presentes, em meu nome, EU estarei presente”. Esta frase é Crística e, portanto, arquetípica podendo resumir o poder e a magia que surgem nas sessões de coaching, nos momentos em que a conexão acontece e passamos a caminhar junto com o cliente, envoltos por uma clarividência trabalhada em conjunto, numa oitava acima. Esse nível de aprofundamento, que nos remete a uma consciência mais apurada, não é muito usual no dia a dia de profissionais voltados para explorar questões específicas, dentro de contextos bem delineados, mas com certeza sempre se faz presente quando o processo de coaching alinha as instâncias do pensar, sentir e querer e nos oferece um patamar privilegiado de observadores conscientes em posse do seu EU. Cabe aqui compartilhar um verso:

Erra quem confunde o espírito com a alma
Não menos erram aqueles que confundem a alma com o corpo
Da união do espírito com a alma nasce a razão
Da união da alma com o corpo nasce a paixão
Destes três elementos:
A Terra deu o corpo
A Lua deu a alma
E o Sol deu o espírito
através dos quais o homem consciente de todas as coisas é a uma só vez, durante sua vida física, um habitante da terra, da lua e do sol.

Plutarco

Eu diria, um habitante do Universo em perfeito alinhamento corpo, alma e espírito. Ao falar dos sentidos, Rudolf Steiner, menciona que os sentidos humanos não são só 5 e sim 12, sendo este último desenvolvido e presente no ser humano mais evoluído como o sentido do EU. Um estado de desenvolvimento humano em total consciência de si e do mundo. Podemos dizer que o ser humano, neste estágio, está em perfeita autenticidade e totalidade.

Alcançar níveis mais altos de consciência é poder perceber o outro com maior sensibilidade, com a vivência já experimentada anteriormente, que ajuda a reconhecer os temas levantados, mas também com a intuição e percepção aguçadas, fazendo uso de arquétipos, imagens e metáforas que traduzem aquilo que está nas entrelinhas – o que não foi dito, mas deve ser auscultado e que se coloca entre o coach e o cliente quase como um mistério a ser desvendado. É utilizar todos os sinais fornecidos, em meio a esse campo energético diferenciado que foi se configurando no percurso de conhecer o cliente em toda a sua plenitude, onde o temor e sentimentos similares nem sequer foram cogitados.  

Nos profissionais que trabalham com coaching essa ressonância com o cliente, e consigo mesmos, costuma aparecer depois que tem início o autodesenvolvimento do próprio coach e ele já despertou para a trajetória que deve fazer de maneira a aprimorar cada vez mais o seu evoluir no sentido de adentrar essa dimensão. Para isso, é necessário abandonar o ego ou qualquer outro obstáculo que possa limitar a visão do percurso e entregar-se por inteiro ao desenrolar do processo, à capacidade de tornar-se presente, única chave para acessar esse local. 

Os que já experimentaram o gosto desse encontro, decorrente dessa atmosfera, sabem, inclusive, que muitas vezes o coaching ocorre independente de qualquer coisa, não importando nem mesmo a língua, o que demonstra que outros códigos prevalecem a partir de uma conexão bem-feita, descortinando um novo horizonte pouco aproveitado em condições rotineiras.

O aprofundamento em direção a outros níveis de consciência pode e deve fazer parte das sessões regulares, mas somente é possível quando essa conversa interior já foi acionada e à medida em que o próprio coach vai ganhando mais e mais experiência, conforme realiza suas sessões.  O profissional continuará a espelhar o processo, valendo-se do auxílio dos planetas para evocar as qualidades anímicas favoráveis, mas irá contextualizar suas perguntas numa oitava acima e costurar suas conversas ativando os 12 sentidos elencados por Rudolf Steiner; como consequência poderá vislumbrar a expansão da sua própria consciência passando a considerar o terceiro nível da espiral de desenvolvimento de Ken Wilber e os cinco níveis apontados por Robert Kegan. Sim, isso é perfeitamente possível.

Estudos recentes liderados por Robert Kegan relatam que a capacidade de aumentar nossa complexidade mental está sempre conosco, independentemente da nossa idade. 

Kegan é apaixonado por essa análise teórica e sobre a necessidade de as pessoas se tornarem mais conscientes, para desenvolver um pensamento mais complexo. “O problema é a incapacidade de fechar a lacuna entre o que genuinamente, mesmo que apaixonadamente, queremos e o que realmente somos capazes de fazer. Fechar a lacuna é o problema de aprendizagem central do século XXI (Kegan e Lahey, 2009).

Os níveis de consciência desenvolvidos por Kegan nomeiam, pela teoria, cinco estágios estruturais do desenvolvimento humano. Cada um deles trata da maneira como o indivíduo constrói significado do mundo ao seu redor e dele mesmo.

O primeiro e segundo estágio referem-se a crianças e adolescentes que não vamos focar aqui, visto que vamos falar de estados de consciência em desenvolvimento de adultos.

Já o estágio três é definido como mente socializada ou mente tradicional. Trata-se do estágio no qual se encontram mais de 50% dos adultos. Neste estágio, o indivíduo define-se a partir da relação com o meio, a cultura e aqueles com quem se relaciona, de acordo com um conceito pré-definido.

O nível quatro de consciência é denominado autoria própria. Nesta fase, o adulto já consegue avaliar e analisar, independentemente do meio, as diferentes situações, sendo um cocriador de expectativas ao invés de um seguidor fiel.

Por último, o quinto estágio é denominado autotransformação. Poucas pessoas conseguem transcender para esta fase. Nela, os adultos buscam entender os limites de seus próprios sistemas interiores, procurando identificar semelhanças nas relações. É como se, o tempo todo, o indivíduo estivesse fora de si observando a si mesmo.

O processo de desenvolvimento acontece na medida em que transcendemos de uma fase para outra. Não se trata, no entanto, de um destino predefinido onde todos devem chegar a um determinado nível. 

De acordo com Kegan, conforme uma pessoa sobe para um nível superior de complexidade mental, o pensamento de nível inferior ainda permanece presente. Pode-se atuar nos níveis inferior e superior de complexidade mental. 

Kegan e Lahey descobriram que a capacidade de pensamento independente e de maior complexidade existe em todo o mundo, “é um fenômeno que não deve sua origem à cultura, mas à complexidade da mente”.

Elevar a sintonia do coaching é a proposta desse artigo. A ideia é passar por todos aqueles que contribuíram de alguma forma para desenvolver essa conceituação –tais como Leni Wildflower em seu estudo de desenvolvimento de adultos e Tatiana D. Weil, mestre em desenvolvimento humano, aqui ilustrado no tema Robert Kegan, cujos estudos contribuíram significativamente neste artigo. 

O intuito é ainda incorporar no dia a dia uma metodologia que tenha significado e permita que os coaches atinjam o estado de “flow”, um verdadeiro estado de graça, conforme apregoa Mihaly Csikszentmihalyi: flow é um estado mental no qual a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo e que é caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. 

Neste “estado de graça”, o ser humano se encontra em total equilíbrio entre o nível de habilidade e de desafio; a atividade nunca é demasiadamente simples ou complicada. Quando se encontram neste estado as pessoas praticamente “se tornam parte da atividade que estão praticando” e a consciência é focada totalmente na atividade em si, o que facilita o ato de se colocarem integralmente à serviço do performer. 

Então, juntos, coach e cliente assumem o mesmo papel de falar da “questão” do performer, como se fosse uma terceira pessoa envolvida no processo.

A grande questão sempre é como desenvolver órgãos de percepções a serviço de uma “causa”. Como buscar um autodesenvolvimento contínuo para ajudar o outro no seu próprio desenvolvimento.

Rudof Steneir, no início do Sec XX, no estudo de Fases do Desenvolvimento Humano, coloca que o Ser Humano assume sua maturidade após os 42 anos, iniciando a fase do tornar-se sábio, com o desapego do pensar frio para um pensar imaginativo – permitindo-se a prática de vivenciar imagens e possibilidades supra sensíveis, evoluindo aos 49 anos para um estado inspirativo, afinando a sensibilidade de um perceber sutil, podendo evoluir aos 56 anos para um caminho intuitivo, na possibilidade de realizar um querer livre. Estamos falando de Imaginação, Inspiração e Intuição como caminho evolutivo de desenvolvimento da consciência de um EU suprassensível.  

O trabalho biográfico proposto pela Dra. Gudrun Burkard ajuda o ser humano a olhar para si e tomar a vida nas próprias mãos, assumindo as rédeas do destino, re-significando experiências de vida em escolhas conscientes de transformação; do que seguir em frente, deixar pra trás ou transformar. Rudolf Steiner também propôs exercícios colaterais de desenvolvimento humano, na educação prática do Pensar, Sentir e Querer proposto em seu livro “Caminhos para os mundos superiores e filosofia da liberdade”. 

São muitas as possibilidades de realizar um coaching uma oitava acima, lembrando que o desenvolvimento da humanidade espelha o desenvolvimento humano, numa meta linguagem, nos coloca como coaches agentes e reagentes de processos de desenvolvimento.

Enfim, desenvolver consciência coloca o ser humano no caminho evolutivo, em plenitude e plenos de infinitas possibilidades.

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