Quando estou fazendo coaching, estou sempre ciente dos estágios de desenvolvimento que as pessoas vivenciam ao longo de suas vidas, conforme sua faixa etária. Isso pode impactar nas questões endereçadas para um processo de coaching. Saber mais sobre as fases do desenvolvimento humano pode esclarecer o cliente e dar foco para o seu desenvolvimento e em comum acordo trabalhar as motivações deste momento de vida.
Por exemplo, pessoas na casa dos 20 a 30 anos costumam apresentar temas relacionados à identidade; trazem questões existenciais de autoconhecimento, rumo e direção de vida e, o que é mais importante, querem se sentir confiantes sobre isso.
Ao fazer coaching de pessoas com cerca de 40 a 50 anos, suas perguntas tendem a ser “o que eu consegui até agora?” e “o que eu quero fazer com a segunda metade da minha vida?” Às vezes, as respostas revelam sonhos não realizados que geram um sentido de urgência em alcançar a satisfação tão premente neste momento de vida. Esta é a clássica “crise da meia-idade”, em que o coaching precisa se concentrar menos no desenvolvimento da autoconsciência e mais na avaliação e exploração: a insatisfação sentida neste momento requer uma busca por alternativas significativas, possivelmente através da construção de cenários e experimentação.
Para as pessoas na faixa dos 60 a 70 anos, por exemplo, há necessidade de consolidar conquistas, mas também de contribuir com um legado. A essa altura da vida, as pessoas estão cientes de seus pontos fortes e fracos. O que eles precisam do coach é apoio para desafiar os limites de seu conhecimento e experiência – para continuar fazendo coisas novas, para continuar aprendendo e ainda ter metas: assim, o estabelecimento de metas e o planejamento de ações fornecem motivação e propósito renovados.
Saber sobre as fases do desenvolvimento humano, ajuda e esclarece ao processo e ao cliente que passa a tratar suas questões de forma mais objetiva. Fica aqui alguns caminhos de estudos sobre as fases do desenvolvimento humano, que podem em muito ajudar o Coach a se aprofundar no que chamamos de teorias do desenvolvimento humano, que podem fornecer um toque fundamental e vital para ajudar os clientes.
De acordo com o psicólogo Steven Axelrod (2005), a capacidade de funcionar em um nível superior de consciência, seja em virtude da idade, ou de um maior nível de complexidade mental, pode resultar em qualquer uma ou todas as seguintes qualidades:
- Um prazo mais longo e maior capacidade de pensamento estratégico.
- Uma maior propensão para o pensamento reflexivo.
- Aumento da capacidade de reconhecer, compreender e integrar o significado das falhas pessoais e de carreira.
- Um aumento da tolerância de ambiguidade e paradoxo.
- Uma maior capacidade de ouvir e apreciar diferentes pontos de vista.
- Uma maior capacidade de reconciliar diferenças com base na compreensão das tendências e causas subjacentes.
- Uma mudança de um estilo de trabalho baseado na força bruta ou resistência para outro baseado na priorização e liderança de amplos esforços.
- Aumento da capacidade de olhar amplamente para a organização e se identificar com a missão mais ampla.
- Uma maior capacidade de mudar a perspectiva quando necessário e até mesmo reinventar a si mesmo e sua organização.
Implicações para o coaching
- Podemos trabalhar como “tradutores”, ajudando o cliente a compreender seu comportamento e sentimentos dentro de um contexto de desenvolvimento.
- Pode nos ajudar a identificar possíveis problemas para nossos clientes, relacionados à idade, cognição ou raciocínio moral.
- Para alguns clientes, ler sobre o desenvolvimento adulto pode ser extremamente esclarecedor e pode ajudá-los a se compreenderem com compaixão em um contexto mais amplo.
Conhecer teorias de desenvolvimento adulto pode nos ajudar a criar uma maior capacidade de empatia em nossos clientes, um nível mais alto de julgamento moral, comportamento e integridade e uma maior capacidade de pensar independentemente no contexto de uma maior consciência de como os outros pensam e sentem.
Estudos recentes liderados por Robert Kegan relatam que a capacidade de aumentar nossa complexidade mental está sempre conosco, independentemente da nossa idade.
Kegan é apaixonado por essa análise teórica e sobre a necessidade de as pessoas se tornarem mais conscientes, para desenvolver um pensamento mais complexo. “O problema é a incapacidade de fechar a lacuna entre o que genuinamente, mesmo que apaixonadamente, queremos e o que realmente somos capazes de fazer. Fechar a lacuna é o problema de aprendizagem central do século XXI (Kegan e Lahey, 2009).
Os 5 níveis de Consciência de Kegan
Pela teoria, há cinco estágios estruturais do desenvolvimento humano. Cada um deles trata da maneira como o indivíduo constrói significado do mundo ao seu redor e dele mesmo.
O primeiro estágio refere-se a um aspecto de construção da realidade onde o ser está em fusão com o meio. Se dá, principalmente, nos anos de vida primários. É quando a criança ainda não consegue se diferenciar como indivíduo. Quando chora e ao chorar entende que os pais sabem do que ela necessita.
O segundo estágio, chamado de mente instrumental ou mente individualizada, é também muito comum em crianças a partir de aproximadamente seis anos até a pré-adolescência e adolescência. Aqui, ainda não começamos a descobrir diferentes perspectivas. Neste estágio, os indivíduos são autocentrados, não por egoísmo ou algo do gênero, mas pela falta de estrutura para se colocar na posição do outro. Assim, o meio é visto como facilitador ou obstáculo para a realização do desejo pessoal.
Já o estágio três é definido como mente socializada ou mente tradicional. Trata-se do estágio no qual se encontram mais de 50% dos adultos. Neste estágio, o indivíduo define-se a partir da relação com o meio, a cultura e aqueles com quem se relaciona. No caso do driver de tomada de decisão de um líder, por exemplo, acaba sendo pautado por maneiras de se preservar uma relação em específico ou de acordo com um conceito pré-definido.
O nível quatro de consciência é denominado autoria própria ou mente moderna. Nesta fase, o adulto já consegue avaliar e analisar independentemente do meio as diferentes situações. Permite a um líder, por exemplo, ser um cocriador de expectativas ao invés de um seguidor fiel.
Por último, o quinto estágio é denominado autotransformação ou mente pós-moderna. Poucas pessoas conseguem transcender para esta fase. Nela, os adultos buscam entender os limites de seus próprios sistemas interiores, procurando identificar semelhanças nas relações. É como se, o tempo todo, o indivíduo estivesse fora de si observando a si mesmo, o mundo e as relações entre todas as coisas.
O processo de desenvolvimento acontece na medida em que transcendemos de uma fase para outra. Não se trata, no entanto, de um destino predefinido onde todos devem chegar a um determinado nível. Ao contrário, o desenvolvimento individual não tem relação nenhuma com a vontade própria e sim deve-se a uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos que requerem um nível de complexidade interna específica. O desenvolvimento é, então, fruto da relação ideal entre suporte e desafio, determinando assim, a necessidade da ampliação, ou não, do ferramental de construção de significado de cada um de nós.
De acordo com Kegan, conforme uma pessoa sobe para um nível superior de complexidade mental, o pensamento de nível inferior ainda está presente. Pode-se atuar nos níveis inferior e superior de complexidade mental. Kegan e Lahey conduziram estudos de comportamento de diferentes culturas, particularmente culturas onde o “pensamento de grupo” é mais prevalente.
Eles descobriram que a capacidade de pensamento independente e de maior complexidade existe em todo o mundo, “é um fenômeno que não deve sua origem à cultura, mas à complexidade da mente”.
Kegan e Lahey desenvolveram um processo para revelar as razões pelas quais é difícil fazer mudanças na vida. O processo de Imunidade à Mudança envolve um exercício que ajuda a identificar o que Kegan e Lahey chamam de “compromissos concorrentes” e, finalmente, a descobrir a “grande suposição” de alguém. O exercício foi elaborado para ajudar as pessoas a compreender o que as impede de seguir em frente. Também oferece a possibilidade de ensinar os clientes a pensar de forma mais complexa.
Coaching Antroposofico: uma oitava acima
Alcançar níveis mais altos de consciência é poder perceber o outro com maior sensibilidade, com a vivência já experimentada anteriormente que ajuda a reconhecer os temas levantados, mas também com a intuição e percepção aguçadas, fazendo uso de arquétipos, imagens e metáforas que traduzem aquilo que está nas entrelinhas – o que não foi dito, mas deve ser auscultado e que se coloca entre o coach e o cliente quase como um mistério a ser desvendado. É utilizar todos os sinais fornecidos, em meio a esse campo energético diferenciado que foi se configurando no percurso de conhecer o cliente em toda a sua plenitude, onde o temor e sentimentos similares nem sequer foram cogitados.
Para nós, profissionais que trabalhamos com pessoas, essa ressonância com o cliente e consigo mesmos, costuma aparecer depois que tem início o autodesenvolvimento do próprio coach e ele já despertou para a trajetória que deve fazer de maneira a aprimorar cada vez mais o seu evoluir no sentido de adentrar essa dimensão. Para isso, é necessário abandonar o ego, ou qualquer outro obstáculo que possa limitar a visão do percurso, e entregar-se por inteiro ao desenrolar do processo, à capacidade de tornar-se presente, única chave para acessar esse local.
Os que já experimentaram o gosto desse encontro, decorrente dessa atmosfera, sabem, inclusive, que muitas vezes o coaching ocorre independente de qualquer coisa, não importando nem mesmo a língua, o que demonstra que outros códigos prevalecem a partir de uma conexão bem-feita, descortinando um novo horizonte pouco aproveitado em condições rotineiras.
O aprofundamento em direção a outros níveis de consciência pode e deve fazer parte das sessões regulares, mas somente é possível quando essa conversa interior já foi acionada e à medida em que o próprio coach vai ganhando mais e mais experiência, conforme realiza suas sessões. O profissional continuará a espelhar o processo, valendo-se do auxílio dos planetas para evocar as qualidades anímicas favoráveis, mas irá contextualizar suas perguntas numa oitava acima, e costurar suas conversas ativando os
12 sentidos elencados por Rudolf Steiner; como consequência poderá vislumbrar a expansão da sua própria consciência passando a considerar a espiral de desenvolvimento de Ken Wilber e os cinco níveis apontados por Robert Kegan. Sim, isso é perfeitamente possível.
Elevar a sintonia do coaching é a proposta de quem se destina a traçar um panorama que demonstre iniciativas individuais ou coletivas que vêm indicando como o coaching está evoluindo no mundo. A ideia é passar por todos aqueles que contribuíram de alguma forma para desenvolver essa conceituação – nomes tão variados como Platão, Eckhart Tolle, Robert Kegan, Jung, René Descartes, entre outros, mas também analisar perspectivas mais atuais.
O objetivo é, sobretudo, instigar os profissionais a fazerem uma reflexão sobre o tema e a se instrumentalizarem para a ampliação do nível de consciência, na prática.
O intuito é ainda incorporar no dia a dia uma metodologia que tenha significado e permita que os clientes atinjam o estado de “flow”, um verdadeiro estado de graça, conforme apregoa Csikszentmihalyi: flow é um estado mental no qual a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo e que é caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade.
Neste “estado de graça”, o ser humano se encontra em total equilíbrio entre o nível de habilidade e de desafio, a atividade nunca é demasiadamente simples ou complicada. Quando se encontram neste estado as pessoas praticamente “se tornam parte da atividade que estão praticando” e a consciência é focada totalmente na atividade em si, o que facilita o ato de se colocarem integralmente à serviço do outro.
Então, juntos coach e cliente, assumem o mesmo papel de falar da “questão” do performer, como se fosse uma terceira pessoa envolvida no processo. EU e VOCÊ falamos de VOCÊ!
É disso que estamos falando, como desenvolver órgãos de percepções a serviço de uma “causa” chamada desenvolvimento humano. Para tal é preciso buscar um autodesenvolvimento contínuo para ajudar o outro no seu próprio desenvolvimento.
Fontes bibliográficas
- Tatiana D. Weil é a idealizadora da consultoria “Olhares Desenvolvimento Humano”, administradora de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (EASP–FGV) e mestre em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Harvard.
- Leny Wildflower, PhD: Stages of our lives: Theories of development.
- Maria Angelica Carneiro, Coach MCC, artigo: “O coaching uma oitava acima”.